*Por Osmar Gomes dos Santos
A efemeridade está ligada a uma condição temporal passageira, breve e repentina. A depender do ângulo de vista, a própria vida pode ser tomada como efêmera, curta como um leve sopro. Mas ao mesmo tempo pode ser intensa, para àqueles que são mansos de coração e que se colocam em condição ainda menor diante da grandiosidade Divina. Ainda que, não se queira crer na espiritualidade, ela traz antes de tudo um modo de vida pleno em sabedoria.
Na contramão do humilde está o arrogante, o pedante. Não à toa há um provérbio profundo que diz claramente que a “soberba precede a ruína e a altivez do espírito a queda”. Neste contexto, lembrarás com certeza de algum exemplo próximo a você.
O desenvolvimento do ser humano só foi possível, em diversos aspectos, quando este passou a viver em sociedade. Muito tempo depois, a organização social em torno do estado-nação foi tomada como condição necessária para regular as relações.
Assim, o funcionamento desse aparato institucional, que agora se mostra gigante e que regula a vida de milhões, bilhões de pessoas, se encontra devidamente aparelhado. E possui as ferramentas capazes de garantir o compassado ritmo do tique-taque social.
Normas, limites, regramentos – formais ou informais – estão calcados em atos legalmente constituídos ou em valores moralmente edificados na relação com os comuns. Os ordenamentos estatais servem como balizadores que mantêm a sociedade em equilíbrio. Ou, pelo menos, deveria.
No entanto, homem é homem e suas atitudes nem sempre são tão nobres quanto a de seu Criador. Nesse sentido, investido em posição de poder, alguns são capazes de cometer delírios e desventuras sob o argumento de que está a governar.
Um ditado popular diz que “Deus não deu asas para cobra”. A compreensão se dá pelo fato de seu grau de periculosidade e sua peçonha que a depender da espécie, pode ser mortal. Mas, tal qual, ou mesmo pior, pode ser um homem de pouca ou nenhuma virtude com poderes em sua “caneta”. Nas mãos deste, o poder é como um veneno. Tomado por ele, deixa-se contaminar a alma e fica cego diante dos fins colimados. Investido na nobre e representativa posição estatal, desvirtua sua função, escolhe seus alvos e persegue-os sob os mais diversos pretextos.
Pode confundir público com o privado e tomar para si aquilo que não lhe convém. Pode subtrair a esperança daquela mesma sociedade que na sua investidura prometeu defender.
Por menor que seja a compreensão de um indivíduo, dito gente comum, sem a carcaça do poder, é razoável pensar o quão contraditória são essas posições tomadas por alguns poucos.
Lembrei-me de um “desenho” que passava na Globo, lá pela década de 1990, no qual um príncipe desembainhava sua espada e invocava os poderes de “Grayskull”. A diferença é que o príncipe Adam (He-Man), que não é aquele de Maquiavel, usava sua espada para o bem.
Contrariamente, há os que utilizam sua “caneta” para atender a interesses escusos, que não compactuam com o Estado Democrático de Direito.
Há, ressalto que não é o poder algo ruim, empregados corretamente, seus efeitos se fazem refletir no bem-estar, na produção de justiça e na felicidade de todos e todas. Todavia, há os que escolhem se apoderar do mesmo para produzir o mal e atingir outrem.
Um tanto quanto místico que sou, por acreditar que somos uma fagulha em um emaranhado de mistérios e forças que regem o que chamamos de “mundo”, acredito que há uma máxima universal que devolve, na mesma moeda, aquilo que emanamos. A escolha do que receberá de volta, se o bem ou o mal, cabe a cada um no seu arbítrio.
No entanto, convém reforçar sempre que o investido de ente estatal, que veste o manto da coletividade e interesse público, não deve seguir seu arbítrio, e, da mesma forma, precisa utilizar o repelente da moral e humildade que afaste para longe a “mosca azul”.
Quando estava a rascunhar estas poucas palavras alguém me questionou: por que não colocar o título em um sentido mais direto? Algo do tipo “o poder é efêmero”. Com humildade, parei e refleti um pouco sobre a decisão previamente já tomada, para verificar se não poderia eu estar equivocado.
Então, devolvi, de forma sóbria, ao meu interlocutor: É simples. O poder neste caso não é efêmero. Ele é poder desde os primórdios. Atravessou gerações e agora repousa sobre alguém, que amanhã já não o terá.
O poder permanece, segue seu ciclo. É algo que transcende a nossa insignificância. A única coisa efêmera na relação com ele é a nossa condição mesquinha em não saber lidar com o mesmo.
A resistência é necessária para combater a intolerância dos perseguidores efêmeros do suposto poder. Quem resiste, quem não se acovarda, jamais envergonhará seus filhos e netos.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.