Semana passada utilizei este espaço para falar do mal que assusta todo o mundo: Covid-19. O assunto é sério e nunca é demais insistir no debate acerca das medidas preventivas frente à nova ameaça global.
Embora a Cidade de Wuhan, na China, pareça aos poucos voltar ao normal, em outras partes do mundo onde a epidemia se espalhou o caos ainda não dá sinais do fim. O caso mais emblemático é da Itália, que em menos de um mês passou dos 35 mil casos e já contabiliza cerca de 3 mil mortes.
Os discursos proferidos por autoridades, para que o pânico não fosse instalado, pouco adiantou frente à velocidade com que o vírus se espalhou e da destruição que vem causando onde chega.
Após constatação da letalidade do vírus, medidas para conter a proliferação do Covid-19 passaram a fazer parte das políticas estatais adotadas. Autoridades em diversos países e em esferas diferentes começaram a tomar medidas drásticas para evitar a interação entre pessoas.
Segundo a Unesco, metade dos estudantes do mundo estão com as aulas suspensas. Em razão do esvaziamento de pessoas nas ruas, grandes metrópoles mundo afora mais parecem cenários de um filme apocalíptico ou mesmo, e até ironicamente, as ficções cinematográficas nas quais a população é dizimada por um vírus letal.
As bolsas de valores continuam despencando. Como espuma ao vento, ações de empresas impactadas tem perdido valor sistematicamente. Por aqui, o dólar disparou e atingiu, pela primeira vez, o valor de R$ 5,20.
Na Europa supermercados já estão ficando desabastecidos e cenas de consumidores disputando na força alguns poucos itens que sobram nas prateleiras são estarrecedoras. Por aqui, prevalece a velha prática oportunista de aumentar preços de itens mais procurados pelos consumidores. Os preços de luvas e máscaras dispararam em algumas lojas do ramo, enquanto o álcool em gel teve seu valor triplicado.
No caso brasileiro, não se trata apenas de simples lei do mercado de oferta e procura, mas oportunismo e egoísmo de quem apenas pensa em lucrar com a desgraça social. Prova de que ainda não atingimos um patamar desejável na escala civilizatória.
Apesar de todas as medidas de contenção, os casos no Brasil giram na casa dos 600 em pelo menos 18 estados e do Distrito Federal. As primeiras mortes confirmadas no país esta semana levaram pânico e um cenário de completa incerteza à sociedade, mas ao mesmo tempo chamou atenção das autoridades para ações mais enérgicas no combate à pandemia.
Escolas tiveram aulas suspensas, viagens estão sendo canceladas, pessoas estão sendo orientadas a ficar em casa, mantendo certo isolamento do mundo exterior. Em algumas cidades já há restrição explicita à visitação em logradouros públicos, inclusive com a fiscalização efetiva por parte de agentes públicos.
São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, já estão adotando medidas de fechamento de shoppings e academias. No caso do Rio, até as praias e calçadões se tornaram zonas proibidas. Outras cidades estão adotando medidas até mais radicais, como a diminuição da frota de ônibus.
Cancelamento de eventos, interrupção de campeonatos esportivos, limitação na locomoção, suspensão de serviços públicos. A população está acuada. Mais do que isso, está sofrendo frente a tantas incertezas. Empresas já começaram a demitir.
Na contramão do clamor social, o Presidente deu péssimo exemplo e contrariou as recomendações da própria Agência Nacional de Saúde Suplementar e do Ministério da Saúde, órgãos federais a ele subordinados.
Não bastasse o inconveniente apoio prévio às manifestações do último dia 15 de março contra o Congresso, ele saiu às ruas e se misturou ao povo, cumprimentando, fazendo selfies e vídeos. Vale lembrar que ele estava na comitiva aos Estados Unidos, que posteriormente teve 17 dos integrantes que testaram positivo para a doença, o último foi o ministro Augusto Heleno.
Apesar de todo sofrimento, estamos diante de uma cruzada, na qual é preciso o envolvimento de todos na luta pela eliminação da ameaça. A participação da população nunca foi tão importante em uma empreitada pela saúde pública. Seguir as recomendações de evitar aglomeração, lavar constantemente as mãos e não compartilhar notícias falsas sobre a doença.
A China já iniciou uma vacina teste para o novo coronavírus, assim como os Estado Unidos, mas a previsão é que um antídoto final somente entre 12 e 14 meses. De modo geral, pode-se afirmar que o Covid-19 passará, mas deixará muitas lições a todos nós. Casos de egoísmo e oportunismo serão lembrados, gestos irresponsáveis ficarão na memória. Da mesma forma como a solidariedade de muitos será multiplicada rumo a um mundo melhor.
Importante um parêntese para reconhecer o valoroso e árduo trabalho dos profissionais da saúde, muitos dos quais abdicaram de suas vidas em prol dos doentes e neste momento encampam uma verdadeira guerra na linha de frente contra a Covid-19. Os heróis não estão nos quadrinhos, vestem jaleco branco e fazem parte do nosso cotidiano.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras