*Por Osmar Gomes dos Santos
Falar de “Francisco”, na história de raízes africanas no Brasil, pode não ser algo tão familiar para a maioria da sociedade. Mas, ao se mencionar o nome Zumbi dos Palmares, certamente traz uma vinculação direta com a proposta de resistência contra a exploração do negro no regime escravocrata.
Há controvérsias quanto à sua trajetória, inclusive no sentido de lhe trazer o rótulo de dono de escravos e de explorar a força braçal do negro dentro do Quilombo dos Palmares.
Fato é que muita informação foi perdida ao longo dos séculos seguintes e os livros de história, tal como aprendemos, sempre contaram as histórias que fossem mais convenientes ao colonizador. Ou como preferem alguns: ao conquistador ou descobridor.
Nascido em 1655, em Alagoas, e foi capturado ainda criança, sendo entregue aos cuidados de um padre, oportunidade que foi batizado como Francisco. Aprendeu português e latim e ajudava o padre nas missas.
Teria fugido aos 15 anos, quando regressou a quilombo, seus dotes como um bom guerreiro e liderança logo ficariam evidentes. Tornou-se o último líder do Quilombo dos Palmares, que era símbolo de resistência negra contra a escravidão.
Toda a luta de Zumbi foi no sentido de assegurar a libertação de todos os escravizados, e descartou acordos que não levassem ao objetivo de garantir a total liberdade para a população negra.
Nada se falava sobre revolução industrial, capitalismo ou recebimento pelo trabalho. A luta era contra o trabalho forçado, contra um movimento que retirava pessoas de suas casas além-mar, colocavam-lhe uma corrente e as condenava a uma vida de servidão.
Zumbi, que significa “guerreiro”, comandou as linhas de defesa da sua comunidade contra as investidas coloniais, quando ainda era apenas um “combatente” das forças de proteção do quilombo.
Em 1680, assumiu a liderança de todo o quilombo, mantendo-se à frente até 1694, quando tropas da coroa portuguesa enfim romperam a resistência tramada a partir de habilidosas táticas de guerrilha.
Depois da queda de Palmares, após um forte cerco e ofensiva dos bandeirantes, Zumbi precisou fugir. Meses depois, já em 1965, foi traído, tendo sua posição informada às tropas portuguesas. A captura e assassinato, vieram na sequência, com sua cabeça exposta em “praça pública”, para que servisse de “lição”.
Mas os ensinamentos que, de fato, ficaram para a posteridade foram o da resistência, da resiliência, da não aceitação de subjugação de um povo, de suas pessoas, em razão de sua cor.
O 20 de novembro recém comemorado como Dia da Consciência Negra e, também, Dia de Zumbi, traz relação direta com a data de sua morte. Tornou-se dia de reflexão, marco da luta decolonialista ante a cultura, os aprendizados e as histórias que nos impuseram ao longo dos séculos.
Daí porque já disse em algumas oportunidades que fake news não é algo contemporâneo, a não ser o fenômeno do rápido poder de propagação que assistimos atualmente.
Narrativas falsas, para gerar polêmicas e desvirtuar a realidade, já eram práticas colocadas no jogo da desqualificação do outro. A verdade que predominava era a do mais forte. Hoje, constatamos não haver provas de escravidão dentro de Palmares, local de refúgio dos açoites da escravidão.
Graças a Zumbi, Palmares ainda ecoa aos quatro cantos do país, reverberando a resistência, reescrevendo as verdades sobre a escravidão, que não estão nos livros que nos alfabetizaram.
Os ideais do guerreiro mantêm firme a luta pela valorização da cultura afro-brasileira e marcam o hasteamento permanente da bandeira contra o racismo no Brasil. Atravessam séculos e seguem inspirando o movimento por igualdade entre os povos, sobretudo por respeito e justiça.
Osmar Gomes dos Santos é Juiz de Direito na Comarca da Ilha de São Luís (MA).
Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas, da ALMA – Academia Literária do Maranhão e da AMCAL – Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras.





