*Por Osmar Gomes dos Santos
Um dos maiores dramas urbanos vividos pelas grandes cidades na última década diz respeito às drogas. Problema agravado nas metrópoles, como é o caso de São Paulo, que ganhou holofotes do noticiário recente com a questão da chamada Cracolândia.
Esta semana a cidade de São Paulo viu “desaparecer” dependentes químicos de áreas em que há muito se concentravam. No entanto, não foi um fenômeno social que simplesmente fez com que centenas de usuários simplesmente sumissem.
Imagens que circularam nas redes sociais e na grande mídia, bem como relatos de quem vive no entorno, revelam que houve uma ação intencional para dispersar o movimento. É importante falar sobre o tema e trazê-lo para a discussão, que necessita ser levada mais a sério e abranger outros assuntos.
A questão das drogas é transversal, para além da segurança pública. Sem demagogia, não há como desconsiderar a questão da segurança, mas não se trata disso, apenas. É preciso que o assunto seja debatido e enfrentado com a seriedade que a pauta exige.
Embora reflitam em um quadro de insegurança, criminalidade e violência, a transversalidade do tema nos leva a amplificar o olhar. Assim, naturalmente vem à tona o diálogo com a educação, a geração de emprego e renda, a saúde.
A educação deve estar presente desde os bancos da escola, perpassando por ações e campanhas de orientação e promoção da qualidade de vida e bem-estar. Educação forma bases, com princípios e valores, possibilitando a construção de seres íntegros, com maior capacidade de discernimento e menos suscetíveis às armadilhas mundanas.
Também a educação impacta em outro aspecto importante, que é a qualificação técnica para que as oportunidades de emprego e renda sejam aproveitadas. Empreender não é exatamente um dom e, como todo verbo, pode ser conjugado e aprendido. Mente ocupada, não serve de oficina para o que não edifica.
Outro ponto importante se chama saúde. A dependência química é uma questão de saúde e como tal precisa ser enfrentada seriamente enquanto política pública. Ainda que, reforço, existam consequências para a segurança, o problema precisa ser pensado na perspectiva sanitária, especialmente a saúde mental.
Apesar do recorte que faço, destacando o problema na capital paulista, o alerta deve servir a todos. Gestores públicos devem estar atentos, pois a situação já alcança diversas capitais, em maior ou menor proporção. Destaca-se o agravamento do quadro no cenário pós-pandemia.
Enquanto não encarado seriamente, com soluções efetivas, o problema segue. E não adianta fechar os olhos ou varrer para baixo do tapete. Concentrada ou dispersa, a Cracolândia segue viva e precisa de atenção, para que não cresça nas sombras e se torne um problema sem volta, impossível de se dispersar com bombas e gritos de ordem.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas, ALMA – Academia Literária do Maranhão e AMCAL – Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras.