*Por Osmar Gomes dos Santos
A chamada América Latina, denominação que advém da divisão continental do globo, para demarcar áreas e assim poder categorizar as nações, é uma região que vai do Cabo Froward (Chile) à divisa do México com os Estados Unidos.
São 20 países dentro de um “continente” que, apesar de (ainda) não pegar em armas para resolver seus problemas entre nações – salvo batalhas pontuais que ficaram na história –, têm enfrentado enormes dilemas político-ideológicos que impedem o crescimento socioeconômico da região.
Mario Vargas Llosa, escritor peruano e vencedor do Nobel de Literatura, falecido recentemente, certa vez escreveu em célebre obra, em tradução menos literal, sobre quando o Peru se lascou? Essa pergunta vale, naturalmente, para todo o resto da América Latina, guardadas as devidas proporções em cada país.
Fato é que algo não está no devido rumo e tem condenado as nações ao chamado subdesenvolvimento. De norte a sul podemos verificar problemas crônicos que se instalam nas lacunas criadas pela crise dos Estados Nacionais, independente da linha política de governo.
Interesses nada alinhados – seja na perspectiva do bem comum da região, seja, muitas vezes, na contramão dos interesses da própria nação –, criaram um mosaico totalmente fragmentado, com fraturas profundas e que inviabilizam o ideal de democracia plena que deveria prosperar.
Em que pese o saque europeu durante séculos de exploração, ainda há abundância de riquezas naturais, com exuberante fauna e flora, recursos minerais e hídricos. Na contramão, somos destaques pelas mazelas que se instalam e que condenam o povo, pelo menos a grande e massiva maioria, à pobreza ou mesmo à miséria.
Falta saneamento básico, doenças tropicais se proliferam e a assistência à saúde é precária. Os dilemas político-ideológicos refletem no crescimento econômico, impactando na limitada geração de oportunidades de empregos, salários baixos e a impossibilidade de satisfação das necessidades mais básicas.
A mesma sociedade que tanto luta para sobreviver, acredita em uma luz no fim do túnel, de onde surgirá um herói para salvar a nação. Quem nunca ouviu, por aqui, a expressão “salvador da pátria”? Líderes populistas se amontoam, sob o pretexto de que tirarão o povo da miséria material e intelectual.
No fim, passadas décadas, vê-se que nada ou muito pouco muda no quadro geral. Os mesmos líderes de outrora se aprofundam em escândalos de corrupção que agravam crises de nações já combalidas, soterradas em dívidas e com graves problemas sociais para equacionar. Mas a luz segue no fim do túnel.
Atrelado à crise dos poderes e instituições, assistimos a uma forte expansão do crime organizado, que hoje alcança, em maior ou menor proporção, todos os países latino-americanos. A violência e a insegurança formam um grave problema que potencializa outros já existentes, pois tira do cidadão sua liberdade, um direito fundamental, de ir e vir.
Cidadãos estes que agora estão presos em suas próprias casas, longe do pacto colaborativo que é a base de uma comunidade, que nos torna seres políticos, conforme acepção aristotélica.
Assim, vamos fragmentando ainda mais a estrutura social, afastando-nos uns dos outros, imergindo em culturas virtuais, que nos fazem abstrair da própria realidade.
A resposta para a pergunta de Llosa, feita há 60 anos, não é simples, mas exige profunda reflexão sobre o que historicamente tem dado errado para o lado de cá e que nos ajuda, pelo menos, a expressar nossa frustração com o estado de coisas: de antes, de agora e do que podemos vislumbrar no horizonte.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas, ALMA – Academia Literária do Maranhão e AMCAL – Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras.