*Por Osmar Gomes dos Santos
A Seleção Brasileira de Futebol não é mais a melhor do mundo. Para quem é mais novo e não pôde acompanhar as glórias passadas, essa afirmação parece um tanto quanto ingênua, mas não é, por mais óbvia que seja a minha afirmação.
A Amarelinha por muito tempo assombrou os adversários mundo afora. Não era imbatível, claro, mas era a certeza de muita entrega dentro de campo, somada a um talento ímpar. Onze guerreiros que lutavam até o apito final, deixando o campo de batalha exaustos e, para nós, a certeza de uma entrega total.
Hoje, ao assistirmos nossa seleção, a sensação é de um time no qual não há entrega, no sentido do comprometimento, é um time sem expressão, apático e previsível. Bom que se diga, os jogos do Brasil sequer trazem a animação de outrora: família e amigos reunidos diante da telinha, um clima efusivo, cerveja gelando, a carne na brasa.
Na Copa América que se encerra, a tal propaganda da CBF de que brasil é com “s” e não “z”, porque aqui se joga um futebol redondo, não empolgou a nação, tampouco a própria seleção. Empatamos com a fraca Costa Rica, vencemos sem convencer um Paraguai desarrumado e sofremos no empate contra a Colômbia (esta sim, jogando o fino da bola).
Sucumbimos nas oitavas diante de um Uruguai previsível, retranqueiro, provocativo, mas aguerrido. Não conseguimos ser eficientes, mesmo com um jogador a mais, e caímos na cobrança de pênaltis. Um futebol que nada lembra os tempos que se vestia a camisa com amor. Lembro-me que mesmo diante de algumas derrotas, ficava a certeza de que tínhamos dado nosso melhor.
Faltou mais entrega dentro de campo, óbvio. Mas o que está faltando extracampo? Como a CBF pode superar esse estado de letargia e voltar a ter um conjunto competitivo? Parece-me óbvio que a Seleção necessita de reformulação, em diversos aspectos, dentro e fora de campo.
Alguns nomes precisam ser repensados e outros precisam assumir a posição de protagonista. Não se pode aceitar que Vinicius Junior, no seu auge, entregue pouco e fique fora de jogo decisivo por receber 2 cartões amarelos infantis. É preciso organizar a casa e isso é urgente.
Ainda temos, de forma geral, excelentes jogadores, aqui e além-mar. Mas é necessário resgatar o sentido da Amarelinha, o que ela representa e o que é preciso fazer para alcançá-la. Sim, é uma crítica. Como a todo apaixonado por futebol, quero ver uma seleção competitiva.
E arrumar a casa é olhar para frente, adiante. Não como ouvi um comentarista afirmar que a Seleção deveria “cuidar” de Neymar, a ponto de recuperá-lo. Discordo por completo. Na seleção, como o nome já diz, devem estar escalados aqueles em seus melhores momentos.
Nosso manto do futebol vestiu Zagallo, Leônidas, Garrincha, Tostão, Jairzinho, Calos A. Torres, Didi, Djalma, Vavá, Rivelino, Zico, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Pelé. Poderia citar outros, mas fico com esses para estabelecer um paralelo do ontem e do hoje.
Jogadores que queriam estar na Seleção, faziam por merecer e fizeram história. Alguns, inclusive, dos tempos em que futebol era muito mais amor pelo esporte do que pelas suas cifras.
É natural que mesmo depois de arrumar a casa não há a certeza de títulos, posto que outras seleções têm demonstrado expressiva evolução. Vide a Colômbia, vide os jogos da Eurocopa. No entanto, se tiver comprometimento e o resgate do nosso futebol irreverente, já teremos avançado muito.
Por falar na melhoria de outras seleções, destaco que não quero dizer que o Brasil ficou parado. Quem dera estivéssemos estacionado no padrão do futebol da década de 50, 60, 70, 80, 90 e até o último título, em 2002. Certeza que teríamos outro padrão de jogo.
Contrariamente, parece termos involuído, como se costuma dizer no mundo da bola, desaprendido de jogar futebol. As últimas seleções em nada lembram o que um dia foi a Amarelinha, vide o fatídico 7 x 1 contra a Alemanha dentro de casa.
Portanto, se ainda queremos estar neste mundo competitivo, é preciso avançar em alguns aspectos sim. A ciência, por exemplo, está aí para ajudar o esporte. Mas é essencial que voltemos às nossas origens, resgatemos nossas raízes. Não ganharemos tudo, mas encantaremos sempre. Quem não lembra de 1982?
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e AMCAL.