*Por Osmar Gomes dos Santos
Pensar a natureza humana, suas origens e destino, é algo que muitos filósofos se debruçaram desde que nos entendemos enquanto sociedade. Fato é que nunca se chegou a uma resposta concreta e tudo que veio antes e o que virá em seguida segue um mistério.
O homem natureza de Éfeso, passando pelo ser com alma definido por Platão ou pelas ideias agostinianos do homem pecador por essência, até o homem racional de Descartes. Poderia citar, ainda, o homem puritano de Rousseau ou o lobo hobbesiano que reside em cada um de nós.
Diante das incertezas sobre o que somos em nosso âmago, regresso ao entendimento razoável de sermos ciclo. E não se trata de uma sucessão de vidas, que se esvaem com o apagar da chama e regressam com um sopro criador. Somos ciclo aqui, ainda em vida.
A certeza é do agora, e só do agora. Estamos aqui, neste momento.Absolutamente nada pode ser dito sobre o instante seguinte, que só carrega a sombra imprecisa das dúvidas sobre os planos que fazemos sem darmos conta se os alcançaremos em alguma medida.
Neste ciclo chamado vida, pessoas entram e saem de nossas vidas, assim como adentramos na vida de outrem. Muitos desses encontros são arrebatadores, deixam-nos
marcas ou imprimem no outro os nossos sinais indeléveis, daqueles que nem o tempo, com sua infinita inexorabilidade, é capaz de apagar.
São pessoas que chegam e saem, uma sucessão delas, como se fossem estações em um sistema metroviário. A propósito, já estabeleci aqui, noutra oportunidade, esse paralelo. Vagões que apenas seguem em uma direção, com estações que se sucedem e pessoas que cruzam nossos caminhos.
Pessoas que circulam ora no mesmo sentido, ora na via oposta. Algumas delas estacionam e passam a conviver conosco, fazem parte dos momentos, deixam impressos os sorrisos, os olhares, os toques, os afagos. Até que é chegado o momento de descer em sua própria estação, restando-nos a saudade que aperta com a dor da ausência. Vazio trazido por um tempo que não volta e ao passo que se torna mais e mais efêmero, há momentos cujos instantes parecem se tornar infinitos.
De volta à realidade, imbuídos de uma razão quase incompreensível, passamos a nos dar conta de que tempo é, de fato, algo que possuímos cada vez menos. Uma dimensão cada vez mais incompreensível dada à efemeridade carregada a galope pela complexa dinâmica social, que nos arrebata e muitas vezes cega-nos para vida.
Deixa-nos única brecha, pela qual espreitamos os compromissos e responsabilidades inadiáveis impostos por uma rotina que nos consome até a alma. Enquanto isso, seguimos muitas vezes – com a ternura da licença poética – sabotando-nos a nós mesmos, enquanto adiamos nosso próprio viver.
E os ciclos? Bom, metaforicamente, estes não se renovam, mas apenas se sucedem. E quanto mais aceleramos nossas locomotivas desenfreadas, mais os encurtamos. Com olhar do imediatismo focado para o resultado, perdemos a fantástica jornada que nos permite chegar até lá. Assim, perdemos a nossa natureza sem ao menos compreendê-la.
O que somos em essência, afinal?
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.