*Por Osmar Gomes dos Santos
Desde as primeiras séries do Ensino Fundamental aprendemos que a Terra é o planeta água, cuja superfície é, aproximadamente, 70% coberta por esse líquido. Na última quarta-feira (22), foi comemorado o Dia Mundial da Água, um importante momento para refletir como nossos atos podem comprometer gerações futuras.
É sabido que apesar da abundância, a água dita “doce” está restrita a uma reserva de apenas 3% e um percentual ainda menor, de 1%, corresponde à fatia disponível com possibilidade de consumo. Além dessa “limitação”, outro fator agravante é que a distribuição não é igualitária sobre o globo. Há regiões com muita, enquanto noutras a briga por um copo já começou.
Decerto que fatores geográficos históricos contribuíram para a distribuição não igualitária desse bem essencial à vida. Por outro lado, estamos acelerando cada vez mais a sua escassez a partir de nossa atitude predatória, sugando a água como o morcego toma-lhe o sangue de sua presa.
Sem rodeios, assim que temos agido. Concretamos nossas cidades, não respeitamos nossos rios, poluímos a atmosfera, queimamos nossas florestas. Somos ao mesmo tempo causa e consequência, atores e vítimas de nossas próprias desmedidas atitudes cotidianas.
A Terra agoniza, definha, e com ela todos nós. Vamos a reboque de nossa própria estupidez ao deixarmos de lado nossas inteligências à custa de um tal desenvolvimento, que apenas alcança alguns poucos, tão vítimas quanto aqueles que mais sofrem.
Não há volta. Mais cedo ou mais tarde todos alcançaremos o inexorável destino da dizimação. Não falo de nós aqui, o hoje, o agora. Mas da humanidade e de um futuro que a espreita.
Todos sabemos, claro, que a água não acabará. Ela faz parte de um ciclo permanente. O que tende a desaparecer é o líquido potável, livre de impurezas e em harmonia com todo meio ambiente, condições que possibilitam o fascinante fenômeno da via.
Estamos transformando rios e mares em caldos tóxicos. Nossos lençóis freáticos desaparecem em cadeia com a impermeabilidade e a poluição já alcança uma parcela significativa de lagos, açudes e outras reservas.
Enquanto isso, de forma mais intensa a cada temporada de chuvas, a água cai do céu com mais abundância e em tempo menor, reduzindo a capacidade de reação do homem e de absorção pela própria natureza.
Seria o acaso? Penso que, no mínimo, há uma sequência de acontecimentos lógicos: exploração, ocupação irregular, falta de políticas públicas sustentáveis, impactos na natureza, alterações em biomas, efeitos colaterais aos quatro cantos do mundo.
Ah, e falando em água, tem números sobre a nossa triste realidade. Estudo do Instituto Trata Brasil mostra que metade da população brasileira não é assistida por rede de esgoto e 35 milhões de pessoas não têm acesso à água potável.
Neste Brasil continental, as desigualdades se mostram também por região, cabendo aos estados mais ao sul os melhores índices. Dentre os piores, o Maranhão segue amargando as últimas posições.
Afora as catástrofes naturais, a falta de saneamento e tratamento adequado da água acarreta em um sem número de doenças que acometem a saúde, muitas das quais levam à morte. E assim seguimos nossa marcha como gafanhotos sobre a lavoura.
Para nossa agenda, o dia 22 aparece como mais um daqueles instituídos apenas para lamentarmos, ano após ano. Ao menos, serve à reflexão, para que não esqueçamos de como estamos, dia após dia, apagando conscientemente a nossa própria história neste mundo.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.