*por Osmar Gomes dos Santos
Há uma expressão muito dita em disputas, sejam elas quais forem, que dignifica todo o esforço realizado pelo derrotado. Ela está relacionada a perder de cabeça erguida após ter envidado todos os esforços utilizados, todas as forças e meios morais possíveis, dentro das regras do jogo.
Como ainda estamos em clima de copa do mundo, não custa estender um pouco mais o assunto para refletir sobre um grande aprendizado que a competição traz, também, para nossas vidas.
Sun Tzu dizia nos ensinamentos milenares, acerca da guerra, que em um campo de batalha há dois requisitos básicos que se resumem na máxima: conhece-te a ti e a teu inimigo. Longe dos campos de batalhas propriamente dito, porém tomando de forma figurada a batalha que se trava dentro das quatro linhas, este paralelo cai bem para a análise proposta. A diferença é que do outro lado não há inimigos, apenas adversários.
Sobre este tópico, não tem como não falar em Brasil. As maiores estrelas, jogadores badalados, atletas extremamente valorizados no mercado da bola. A seleção mais cara em valores atuais, mais de R$ 6 bilhões, somados os valores dos jogadores. Há, inclusive, aqueles que tomavam o Brasil por comparação para dizer que a Amarelinha sozinha valia mais de uma dezena de seleções juntas. Acontece, como diz um ditado no futebol, que dentro do campo de batalha – nas quatro linhas – são onze contra onze.
Não adianta ter estrelas, oferecer tratamento vip, possuir contratos milionários, ser uma marca mundial. Para honrar uma camisa de tanta história é preciso ter comprometimento, dedicação, entrega, mas sobretudo, amor à sua nação; algo que ( na minha opinião) passou longe.
Vimos um futebol apagado, sem emoção, com raros lampejos de técnica, logo associada a uma forma de jogar burocrática, cheia de táticas que amarram o time em um futebol horizontalizado e pouca profundidade. Esse foi o retrato da seleção brasileira, inclusive no segundo tempo do jogo contra a Coreia do Sul, que pode ter sido o melhor do nosso plantel.
Por algum motivo, ainda não entendo… o Brasil rumou ao país da copa como franco favorito, após uma fase eliminatória em que saiu invicto diante de adversários bem abaixo de sua qualificação técnica. Jogadores contestados, outros que mereciam estar relacionados e sequer marcaram presença em amistosos anteriores ou uma lista prévia de convocados.
Sendo muito sincero e em respeito à minha consciência, tomando pelo ângulo de que torcemos pelo nosso país, esta foi a copa menos emocionante que já pude acompanhar. A Amarelinha já não parecia a mesma. Jogos sem emoção, sem “agressão”, sem efetividade, sem se impor.
A Seleção Canarinho certamente sente saudades do suor, até a última gota, de jogadores como Ademir da Guia, Leônidas, Didi, Bellini, Nilton Santos, Junior, Gerson, Vavá, Rivelino, Amarildo, Sócrates, Djalma Santos, C. A. Torres, Tostão, Zagalo, Jairzinho, Zico, Garrincha, Bebeto, Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Leão, Gilmar, Tafarel… Pelé!
Diferentemente dos temidos esquadrões anteriores, vimos em campo jogadores mais preocupados com o corte moderno, as luzes no cabelo, a unha bem feita, o estilo e roupa de grife. Ao contrário do que fazem nos clubes, muita “mídia” e pouca bola. Entretanto cabe voltar ao ponto inicial, para falar daquela queda em que se pode aplaudir.
Em uma copa são trinta e duas seleções, apenas uma sai vitoriosa. Cada jogo é uma batalha, que em alguns casos se estende pela prorrogação ou pênaltis. São disputas intensas, nas quais todos querem, com direito, ganhar. Porém, há derrotas que são dignas; outras, nem tanto.
Entre grandes seleções e aquelas as quais cabem papéis de coadjuvantes, muito futebol foi visto nesta copa. Dentro de seus limites, brilharam: Coreia, Senegal, Gana e Japão. Destaque para Croácia, apesar do futebol mais defensivo. Mas o que dizer da excepcional “Seleção” de Marrocos. E que Seleção!
Apesar das baixas no elenco, lutou contra a poderosa França até o último minuto. Atacou, defendeu-se, foi aguerrida e mostrou valor em honrar um país, um continente. Em momento algum se acovardou. Em seu caminho a temida Bélgica, a badalada Espanha e a sempre pesada camisa de Portugal.
Marrocos alegrou o amante do futebol. Sucumbiu sim, mas “caiu de pé”, com graça, com raça, com honra, com glória. A nossa, em contrapartida, jogou um futebol que não mereceu sequer avançar às quartas de final. Para algumas, aplausos, para outras, melhor mesmo fazer igual o seu comandante: virar as costas e (tentar) esconder a vergonha.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Aplausos para esta belíssima e certeira avaliação, sobre uma seleção vergonhosa e desestimulante.