*Por Osmar Gomes dos Santos
Aproveitando o clima da copa do mundo de futebol, quero reservar uma reflexão sobre a postura dos torcedores do Japão. Que povo consciente de seu lugar no mundo!
Em se tratando de uma sociedade mundial com tão pouca consciência, seja social ou ambiental, os japoneses, em especial, causaram “espanto” ao recolherem o lixo produzido nas arquibancadas durante as partidas de seu país.
Achei interessante o fato de como algo que deveria ser tomado como comum, simplesmente repercutiu como “fora da normalidade”.
Lembrei uma história de um amigo jornalista, um exemplo que costumam utilizar na faculdade de comunicação para definir o que é notícia. “Se o cachorro morde o homem, não é notícia. Se o homem morde o cachorro, está aí uma boa notícia”. O exemplo é para ilustrar aquilo que costuma fugir à regra, fora do quadrado do cotidiano e que desperta a atenção. Assim, em uma sociedade de inversão de valores, na qual é mais cômodo deixarmos nosso lixo para trás, a atitude dos japoneses viralizou em várias partes do mundo.
Não falo apenas do lixo produzido por eles, uma vez que nas copas as torcidas se misturam. Assim, a sujeira recolhida era de todos. Na melhor postura de olhar para o meio ambiente e fazer o bem sem ver a quem ou “de quem”, mutirões de asiáticos fizeram sua parte.
A postura dos japoneses, em verdade, nada possui de anormal. Deveria ser a mesma adotada por aqueles que têm empatia para com o outro, algo que está em escassez nos dias atuais.
Por outro lado, no contexto de uma copa marcada pela intolerância e desrespeito a direitos humanos básicos, a consciência ambiental e social da terra do sol nascente é algo a se comemorar.
Quem sabe dessa forma é possível espalhar um pouco mais de amor e de respeito para com o próximo e mais ainda, à próxima. Fazer contagiar mais humanidade, em um lado do globo onde os direitos mais essenciais delas são tolhidos.
A seleção do Japão foi eliminada, o que faz parte da disputa. Ainda assim, seus torcedores lá estavam, mais uma vez, a recolher a sua sujeira.
Alguém vai dizer: ah, mas lá existe equipes para fazer a limpeza após o jogo. É verdade! Isso, porém, o fato de existir uma equipe de coleta em meu bairro não me dá o direito de deixar meu lixo jogado na rua.
Questão de educação? Certamente. Mas, da mesma forma, uma herança cultural que precisa ser abandonada. Afinal, lugar de lixo é no lixo. Essa resposta certamente será dada por 99% dos torcedores que foram à copa. Ou seja, existe a educação, faltam-lhes transformar em hábito, em cultura.
A copa segue, a atitude dos japoneses, pelo visto, não serviu de exemplo para todos e tampouco servirá para uma reflexão de que somos iguais, em direitos e deveres. Não será espanto se daqui por diante as consciências do Catar, ou melhor, as arquibancadas, permanecerem sujas.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.