*Por Osmar Gomes dos Santos
Nos moldes para inglês ver, se deu a abertura do mundial de seleções do Catar. Muito brilho, um alto investimento, toda uma “parafernália” de luzes e efeitos. Isso, efeitos visuais, nada mais.
Em um mundo de fantasias, as imagens valem mais que um milhão de palavras, gestos, atitudes. Desde que esteja ali, nas telas, nas tv’s que pactuam com todo o jogo de bastidores, e, sigam um enredo discriminatório.
A copa do Catar, me referirei ao evento com “c” minúsculo, pois mais que isso não merece, já dá péssimos exemplos ao mundo. Sob o regime dos petrodólares, os valores humanos são colocados de lado, vale o “money” e uma instituição ajoelhada às cifras.
Além das diversas restrições impostas em princípio, inventaram decisões de última hora, afrontando aquilo já pactuado previamente e gerando prejuízos a patrocinadores. Eu posso, eu mando, obedeça. É o patriarcalismo prevalecendo sobre o patriarcalismo. Do oriente ao ocidente.
Mas o maior prejuízo visto, sem dúvida, é aquele à espécie humana. É natural que cada país tenha suas crenças, religiões, tradições. Entretanto nada pode se sobrepor aos direitos humanos universais.
O país da copa trata a homossexualidade como crime, pena de 8 anos de prisão, ou pode chegar à pena de morte, conforme as leis islâmicas que regem aquela nação. Também não é permitido defender ou propagar atos relacionados ao movimento LGBTQIA+, sob pena de até 10 anos de cárcere.
Onde está o fair play? Onde a entidade esqueceu que o futebol é linguagem universal que a todos une e que é um instrumento para quebra de barreiras?
Os direitos humanos são universais e indivisíveis, a dignidade cabe a todos e não a alguns, aqui ou no Catar.
Jogadores de várias seleções, cientes de seu poder de representação perante o mundo, tentaram se expressar, porém foram duramente reprimidos, inclusive pela própria entidade promotora do espetáculo. Parabéns para a Alemanha que posou para foto com bocas tapadas. Censura!
No país da copa, além de cobrir-se da cabeça aos pés, mulheres precisam de autorização do homem para casar, estudar, trabalhar e viajar. É crime até ser vítima, isso mesmo! Uma mulher que sofre violência sexual pode chegar a pegar 100 chibatadas e até 7 anos de cadeia em razão da violência da qual foi vítima.
Isso mesmo. Exatamente o que ocorreu com Paola Schietekat, mexicana que estava morando em Doha, a serviço do governo na organização da copa de 2022. Ela denunciou ter sido vítima de violência sexual, mas, em vez do apoio, foi acusada de “sexo extraconjugal” e recebeu a pena máxima.
Como alternativa ao não cumprimento da pena, foi dada a opção de se casar com o seu algoz. É de se pasmar, não?
Sobre a abertura? Sinceramente não tive “estômago” para assistir até o fim. Pregar a pluralidade, respeito e igualdade, onde? Sugerir que as nações vivem em comunhão? Ah, vai te catar!
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense drela Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
Perfeito, em pensamento e crítica, observações, ideias, construção! Aplausos!
Parabéns pelo texto!