Não é novidade que as diversas ferramentas de comunicação, especialmente fundadas nas tecnologias digitais, potencializaram o poder de participação dos cidadãos. Nunca antes a liberdade de expressão foi tão exercida por pessoas que manifestam suas opiniões.
O “X” da questão é quem fala, o que fala, por qual canal fala e em que momento fala. Algumas pessoas, a depender de sua posição social, precisam redobrar a atenção ao fazer uso desta importante ferramenta democrática que é a opinião. Há casos que o melhor é nem opinar.
A declaração do ministro da Educação, Milton Ribeiro, de que homossexualismo está relacionado a “famílias desajustadas”, feita no ano de 2020, a um periódico paulista(no), voltou aos holofotes. Agora, em razão da denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, por crime de homofobia.
Essa não foi a primeira vez, nem a única; o desejo é que fosse a última. O mesmo ministro já disse que a universidade é para poucos, que algumas crianças com deficiência atrapalham e apresentam uma convivência impossível, dentre outras um tanto questionáveis.
O caso chama atenção porque esta é uma declaração feita por uma pessoa que ocupa o alto escalão do governo federal, notadamente na pasta da Educação. Tal posição deveria emanar exemplos de tolerância e respeito, bem como focar naquilo que importa para o país: EDUCAÇÃO.
Gestores públicos, especialmente aqueles que ocupam posição de grande importância, o que lhes credita visibilidade, devem ter cuidado com suas falas. O exercício de determinados papeis exercidos na sociedade, incumbem responsabilidades e moderação.
Ao se posicionar, autoridades têm o poder de influenciar, dar diretrizes a serem seguidas e são tomadas como verdades. Até aí, tudo bem. O problema está quando essas declarações estão eivadas de ódio, desprezo ao próximo, discriminação, preconceito e inversão de valores humanos.
Neste ponto, a intolerância muda de lado e cabe aos bons cidadãos dizerem não a esse tipo de comportamento. Implica pais e mães de família serem, digamos, intolerantes com a intolerância, e dizerem: basta!
O que o Estado precisa é criar condições adequadas para que todas as pessoas sejam recebidas da forma como são, seja por questão genética ou pelo que escolheram ser, por uma opção de vida, advinda da livre vontade de cada um ou cada uma.
Cabe a mim, enquanto cidadão, o respeito integral ao próximo. Cabe às autoridades, dos seus lugares privilegiados de fala, fomentar esse respeito.
Falas preconceituosas e discriminatórias somente alimentam o ódio e vão de encontro à própria história e cultura brasileira. Somos formados da mistura de povos, da miscelânea de tradições, que dão traços a um povo único.
A tolerância e o respeito, em regra, são marcas da nossa nação, edificada ao suor de muitas cores e etnias. Por isso que comportamentos ditos “fora da curva” não devem ser aceitos e tomados como normais.
Cabe um questionamento: qual conduta é inaceitável socialmente, a opção sexual de alguém ou a promoção gratuita à violência? A primeira opção não parece me oferecer qualquer “perigo”.
Penso que as autoridades do meu país devem, basicamente, cuidar daquilo a que são designadas. Afinal, não estão lá investidas senão para representar toda a sociedade e não um “clubinho” privado. Exercem, pois, uma função pública.
A remuneração ao fim do mês é fruto dos impostos de homens, mulheres, população LGBTQIA+, preto, branco, gordo, magro, baixo, alto, rico, pobre. A promoção de políticas públicas não deve ter cor, credo, classe, religião.
Aos que ocupam posição de destaque no pedestal, peço um pouco mais de bom senso. A palavra tem poder e provoca reações muitas vezes não previsíveis, que podem trazer prejuízos incalculáveis. Vide os regimes totalitários do século passado.
Se é para se utilizar da posição para pretender influenciar, que seja para o bem. Para o amor, a paz, a justiça, a liberdade, a tolerância e o respeito.
Portanto, nunca é demais reforçar: política privada se faz em casa, e olha que com certos limites. Na vida pública, o gestor faz, sobretudo, política pública, a bem da coletividade.
Osmar Gomes dos Santos. Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.