A sociedade está, e naturalmente precisa estar, em constante evolução. A chave para o progresso é não parar, fazer rodar a engrenagem da inventividade, do empreendedorismo, da tecnologia, das ciências, da geração de emprego e de renda.
Uma nação somente avança com a mola propulsora, que são as pessoas, podendo exercer livremente o direito de ir e vir, da livre iniciativa, de ter a oportunidade de realizar uma atividade laboral. Ganha a nação e ganha o indivíduo, nas mais diversas áreas da economia, uma vez que de lá que retira seu sustento para viver com dignidade.
O Estado deve, em contrapartida oferecer condições para que o desenvolvimento aconteça. E falo Estado no sentido genérico, enquanto instituição maior de regulação, que envolve todos os poderes e órgãos públicos.
Esse desenvolvimento deve se dar em diversas frentes, desde a macroeconomia, até a formalização de iniciativas pequenas que geram emprego, renda e prosperidade. Criar condições básicas, estruturantes, é dever do Estado e isso envolve o planejamento adequado das cidades, notadamente daquelas consideradas metrópoles.
O trânsito é um desses pontos que dão um nó e geram um gargalo difícil de ser solucionado, mas que é possível encontrar ações capazes de amenizar seus efeitos na vida de quem precisa se deslocar diariamente.
É bem verdade que São Luís não se compara com algumas grandes cidades em termos de complexidade, ainda, mas no tocante ao seu trânsito é possível estabelecer alguns paralelos ao caos vivido além fronteiras. Intervenções aqui, puxadinhos acolá e as soluções concretas e efetivas parecem não chegar.
O ludovicense, no seu geral, que necessita se deslocar nos horários de pico, terminam por perder entre uma e duas horas por dia, em alguns casos até mais.
Penso que se tivéssemos um trânsito mais organizado, com melhor planejamento e pensado de forma contextualizada e estruturante, conseguiríamos melhor mobilidade urbana. Isso resultaria em ganho de tempo, de qualidade de vida e de qualidade no trabalho.
Cito como exemplo uma pessoa que precisa se deslocar, de ônibus, da Cidade Operária até o Renascença, para entrar às 08h no serviço. Em regra, ela chega ao seu destino por volta das 07h50 ou mesmo pontualmente às 08h.
Fazendo uma análise regressa, durante seu deslocamento, pela Avenida Jerônimo de Albuquerque, ela encontra diversos pontos de estrangulamento, engarrafamentos, sinais, faixas de pedestres. Todos os obstáculos que contribuem para que o trânsito não flua.
Retorna um pouco mais, alguns minutos nas “integrações”, aguardando o sobe e desce de pessoas com destinos mil a cruzarem a cidade. Um pouco antes disso, lá está o indivíduo na parada, minutos a fio aguardando o ônibus. Até se chegar ao despertar desse cidadão, que precisa acordar às 05h30, organizar seu café e tentar pegar o ônibus das 6h30 para encarar a dura jornada.
Toda essa rotina diária para chegar ao seu trabalho às 08h da manhã e retornar para casa sabe-se lá que horas, pois, durante a volta o quadro se inverte. Ao sair de casa, deixa os filhos dormindo, quando regressa, já estão na cama.
Fiz essa reflexão ao me deparar com a grande quantidade de dispositivos colocados exclusivamente para travessias de pedestres, semáforos e faixas. São muitos e em lugares que outros dispositivos serviriam bem à população, e com mais segurança, a exemplo das passarelas.
Somente nesse trajeto hipotético aventado acima, existem dezenas desses dispositivos semafóricos e faixas onde uma passarela resolveria. Um semáforo ou faixa, em alguns casos, pode travar o trânsito gerando um “efeito dominó”, estendendo-se por quilômetros. É o chamado gargalo, que afunila e trava todo o fluxo.
Cito, no referido trajeto, alguns pontos da Avenida Guajajáras, assim como os da região da Cohab, do Angelim, do Bequimão, do Vinhais, do Cohafuma, do Renascença. Sem empecilhos, o trânsito certamente fluiria melhor.
Não se trata aqui de priorizar os motores em detrimento das pessoas, pelo contrário. O planejamento de trânsito se faz para as pessoas, posto que todas elas são impactadas pelos seus efeitos, positiva ou negativamente.
Ainda tomando como base o exemplo dado, considerando que em cada um dos pontos citados tivéssemos passarela, o veículos parariam bem menos e o deslocamento se daria com melhor fluidez, resultando em redução do tempo que se perde no trânsito.
Aquele cidadão das 05h30 perderia menos tempo em seu trajeto para o serviço, o que o possibilitaria dormir um pouco mais e chegar mais cedo em casa. Algo como 30, 40 minutos na ida e o mesmo tempo na volta. Jantar com a família, conversar com os filhos, assistir a um filme com a esposa. Qualidade de vida.
O mesmo cidadão, ao chegar ao seu destino, digamos, no Bairro Renascença, somente teria que gastar 2 minutos para atravessar uma passarela. Economiza-se cerca de 30 minutos e gastar apenas 2 para atravessar uma passarela, com toda segurança na travessia, parece ser uma boa troca.
Recentemente, trafegando pela Avenida Daniel de La Touche, reparei no serviço para instalação de mais dois semáforos. Em um espaço de cerca de 2 Km, talvez menos, passará a existir, exatos nove semáforos, além de algumas faixas de pedestres. Para completar, não vemos sincronismo nos dispositivos.
Falo como cidadão urbano, razão pela qual posso estar equivocado em minha análise, natural. Nem quero aqui pregar a abolição das faixas e semáforos. Apenas trago para a reflexão o debate, uma vez que o progresso pede passagem, a cidade precisa de mobilidade e os cidadãos de qualidade de vida.
Osmar Gomes dos Santos. Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.