Com 157 anos de funcionamento o Mercado Central de São Luís atravessa gerações, resiste ao tempo e se mantém como uma referência para pessoas de todas as idades. Fundado em 1864, foi totalmente reconstruído na década de 1930, por iniciativa do interventor Paulo Ramos.
Com forte apelo para o artesanato e culinária regionais, tem como principal característica a diversidade, sem pretender a especialização de qualquer gênero dos produtos ali comercializados. Encontra-se de tudo nas cerca de 450 bancas e boxes que compõem o conjunto comercial do Mercado.
Vizinho à Fonte das Pedras, ocupa uma quadra inteira, flertando com a famosa Rua Magalhães de Almeida, de um lado, e a também imponente Rua de São João, do outro. É ponto de partida e chegada de ônibus para inúmeros cantos da Ilha e passagem para muitos que se dirigem ao Centro da capital maranhense.
Mercado Central que viu causos ludovicense serem contados nas folhas da história, que marcariam a vida da cidade para a posteridade. Quantas não foram as famílias, das mais pobres às tradicionais, que tinham ali, e ainda têm, o seu destino diário para realização de negócios. De um curtume que havia na imediação, até o antigo gasômetro, que alimentava os postes de iluminação pública da região central.
Mercado que pulsa com comerciantes, vendedores, caixeiros, representantes comerciais, prestadores de serviço, camelôs, ambulantes, flanelinhas, jornaleiros. Um misto de gente, diretamente mais de mil pessoas, de todas as cores e etnias. Indiretamente mais algumas poucas centenas que do vai e vem do mercado aproveitam para fazer a renda do dia.
Pessoas com seus trejeitos particulares, alguns estudados e outros nem tanto, mas com a mesma sabedoria para a lida diária que garantiu o sustento de gerações. Ali se encontra de “tudo em quanto”, como popularmente se costuma dizer.
A identidade maranhense, ou pelo menos grande parte que a constitui, podem ser encontradas naquele espaço. Frutas, verduras e legumes; batidas, destilados, licores; doces, compostos, farinhas; ervas, melados, garrafada, lambedor, leite de janaúba; carnes, aves, mariscos, peixes; artesanatos e utilidades das mais diversas.
Há coisas que só se encontra lá. Ingrediente para todo prato e até o prato já feito; tem erva para todo remédio e também o remédio engarrafado. Gostos, cores, sabores, cheiros. Tem balaios, abanos, funil, ratoeira, colher de pau, chapéu de couro, lamparina, fogareiro. Cofos de jabiraca ou camarão seco aguardam o degustador tradicional, que também acha a farinha para saciar sua vontade de um tradicional chibé.
O Mercado Central é como um organismo vivo, que pulsa com o movimento de domingo a domingo, faça chuva ou faça sol. Não existe férias ou folga, a jornada é permanente. É também um espaço de encontro de amigos, naturalmente, onde costumam se encontrar semanalmente para degustar a boa culinária dos pequenos restaurantes que lá funcionam.
O Mercado Central testemunhou os últimos anos de Ana Jansen, personagem que virou folclore em razão das histórias que viraram causos ludovicenses. Viu o declínio dos tempos áureos, da pujança da monocultura de produtos agrícolas. Acompanhou a cidade crescer e romper fronteiras, com seus prédios imponentes. Segue sua sina, resistindo à modernidade dos novos centros comerciais.
Diante de tantas transformações, continua altivo, não somente porque é uma fonte inesgotável de tantos produtos. Lá se encontra de tudo um pouco, mas, sobretudo, se encontra gente. Do nascer ao pôr-do-sol, o Mercado é feito, também, de pessoas, tem cara, transpira e tem alma.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras