O mundo parou. De repente estávamos fechados em nós, enclausurados dentro de nossas paredes, presos em mundo particular, tão nosso, tão próximo, mas que pereceu desconhecido para muita gente. A pandemia da Covid-19 abalou a todos, em todos os sentidos. Pessoas perderam seus empregos, empresas faliram, outras nasceram e teve aquele que ficou rico na crise.
O ano que ora se inicia inaugura uma nova ordem mundial, não importa qual o regime político que a nação esteja mergulhada. A tecnologia nunca avançou tanto em tão pouco tempo e várias ferramentas se consolidaram durante esse processo, com destaque para aquelas de automação de processos e, claro, as que se propõem a aperfeiçoar a interação virtual entre seres humanos.
É justamente para a interação humana que desejo chamar a atenção. A pandemia nos fez parar e refletir sobre tudo em nossa vida. Simplesmente ficaram distantes as pessoas com quem convivíamos diariamente, trabalhávamos, jogávamos a pelada de fim de semana, encontrávamos em salões, víamos nas portas de escolas, reuníamos em volta da mesa de domingo. A rotina virou.
Acredito que nunca na história da humanidade, pela escala e pelo acesso às informações que temos hoje, sentimos tão fortemente os impactos de um mal que acometeu milhões. Passamos a nos importar mais com o próximo, saber do outro, adotar medidas para nossa proteção e a do outro. Passamos a praticar mais a empatia.
Sim, avançamos tecnologicamente como nunca, mas, apesar de todo avanço tecnológico, creio que demos um enorme salto enquanto seres humanos. Entendo que nos tornamos um pouco mais humanos que outrora, embora ainda tenhamos defeitos e estarmos sujeitos a falhas. Ocorre que simplesmente não daria para passar por todo esse carma sem que mudanças ocorressem.
Ao sentir a dor do outro, evoluímos enquanto seres. Vi pessoas dividirem o quase nada que tinham, correntes de solidariedade para auxiliar idosos, pessoas se unirem para arrecadar e doar mantimentos e itens de higiene necessários ao combate do Coronavírus. Profissionais de saúde dobraram turnos seguidos, enquanto aqueles de outras áreas essenciais também mantiveram a rotina para garantir que aquilo que era necessário chegasse a quem estivesse precisando.
Empresas doaram, companhias de transporte fizeram esse serviço sem custo para pessoas e itens relativos ao combate à pandemia. Aprendemos com a dor, a nossa e a do outro. A pandemia nos tirou, com destaque para nós brasileiros, aquilo que temos de mais essencial nas relações, que é o nosso calor humano.
Toques de punho cerrado e acenos à distância substituíram os apertos de mãos, os abraços e os beijos. Telas de computador e smartphones se tornaram espaços das reuniões semanais. Essa ausência de um sem número de coisas outrora tão rotineiras, nos fez enxergar o mundo de forma diferente. Não há um ser que tenha tido sua rotina alterada que não tenha o mesmo sentimento de que daqui por diante muita coisa vai e deve mudar.
Pelo rumo dos acontecimentos, em breve retomaremos a normalidade do convívio, reataremos os compromissos, abraçaremos aqueles que amamos. E faremos tudo isso de forma ainda mais intensa, de forma ainda mais calorosa, de forma ainda mais verdadeira.
Faremos isso até mesmo pelo fato de que muitos já não estarão aqui, pois foram vítimas fatais da Covid. Isso talvez nos faça enxergar com ainda mais amor e compaixão aqueles que a vida insiste em nos dar a oportunidade do convívio.
Portanto, quando tudo acabar, vamos correr para os braços daqueles que amamos. Deixemos, definitivamente, de lado a arrogância, vaidade e soberba e que em nós prevaleça a empatia. Um mundo melhor é possível a partir dos meus atos, a partir das minhas atitudes para com o meu semelhante, a partir de uma visão de mundo mais humana, compartilhada e igualitária.
Igualdade, sem dúvidas, é uma palavra que também nos mostrou o quanto somos parecidos uns com os outros. A pandemia não escolheu cor, credo, raça, religião ou condição financeira e mostrou o quanto somos vulneráveis, como somos afetados e como morremos, tanto quanto o nosso semelhante, com ou sem posses.
Que possamos, no ano que se inicia, deixar que nos guie o espírito de cumplicidade e de respeito para com o próximo. Que a reflexão sobre as práticas diárias seja uma constante, para que possamos professar coisas boas. Tenhamos mais cumplicidade com o próximo ao saber ouvir, compreender, apoiar e ajudar. Que a empatia seja o guia permanente não apenas em 2021, mas por toda a trajetória pós-pandemia.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.