Basta fechar os olhos para adentrar em um mundo obscuro, cheio de mistérios e acontecimentos que a ciência ainda hoje tenta explicar. Para a neurociência os sonhos podem ser uma reprodução daquilo que carregamos em nosso subconsciente, que captamos com sensibilidade do cotidiano vivido.
Representa uma experiência peculiar que pode ter distintos significados, possibilitando debates nas esferas religiosa, científica e até cultural. Para o campo no da ciência, especialmente a psicanálise, os sonhos há muito são estudados e costumam ser caracterizados como uma manifestação do inconsciente durante o sono, algo como um desejo reprimido que aflora.
Este é o sonho como reprodução em segundo plano daquilo que vivemos, das emoções que carregamos, dos desejos guardados, daqueles segredos escondidos em nosso âmago, muitas vezes egoístico. Lá estão, ainda de forma nada inteligível, pessoas com quem convivemos, lugares que frequentamos, situações vividas e até aquelas nunca vivenciadas, mas que juramos já terem ocorrido, tal como um “déjà-vu”.
Mas destaco um outro sonho, alimentado de forma consciente – com olhos bem abertos e pés no chão – e que simboliza o alcance dos objetivos que carregamos em vida. Sonhamos com nossas realizações desde a tenra idade. Quantos não são os meninos e meninas que sonham serem astros no esporte ou alcançar posição de destaque por meio dos estudos?
Há sonhos mais modestos e, tenha certeza, outros ainda mais ambiciosos. Ainda assim, os sonhos não têm tamanho, não prevalecendo um sobre o outro. A única diferença, no entanto, parece estar na importância que o sonho tem para cada um de nós que se permite adentrar nos labirintos desse mundo idílico.
Sonha-se com tudo, desde amores a serem buscados, passando por lugares que se deseja estar ou morar, até as posições profissionais que se almeja galgar. Este sonho, nada tem a ver com aquele surrealista que nos apanha no pregar os olhos, ora romântico, ora transformado em pesadelo. Decerto que a vida tem lá seus pesadelos, deveras passíveis de serem contornados.
Mas o sonho que aguça meu pensar em um profundo exercício de reflexão é aquele que nos impulsiona, conscientemente, rumo ao desconhecido. Desbravar os mais dolorosos obstáculos, muitos deles impostos por um sistema ainda desigual. Para alguns, não resta outro caminho se não focar o horizonte e sonhar, afinal, sonhar não custa nada, já dizia o enredo.
Ele nos estimula, é o combustível daqueles que ousam sair do lugar comum, superar as dificuldades, ou apenas deixar para trás a famosa zona de conforto. Diferentemente daquele sonho estudado pela ciência, arrisco a dizer que este é ainda mais imprevisível e infinitamente mais fantástico. Aqui, sonha-se acordado, com foco naquilo que se almeja alcançar.
Não é apenas deixar acontecer. Não há espaço para acasos quando o sonho dá lugar a uma batalha incansável pela concretização do objetivo estabelecido, uma força descomunal que resulta em conquistas. “Deixa a vida me levar…” fica poético na letra da música, mas pode ser trágico ao se aplicar a uma filosofia da existência no caso concreto.
Sonhar com os pés no chão implica dedicação, comprometimento, abdicação, estudo, coragem. Cada uma dessas características somadas elevam um abstrato sentimento a categoria de algo tangível. O sonho está na base de tudo! Ele é a centelha capaz de acender e manter viva a força criativa que permite realizar.
Hoje, pedalamos, dirigimos, navegamos e voamos os sonhos de alguém que um dia se propôs pensar fora da caixa. Podemos estar, ainda que virtualmente, em qualquer lugar do mundo, dirigir conferências, participar de reuniões, realizar mais de uma centena de operações sobre nossas vidas na ponta dos dedos, por meio de um smartphone. Se isso é possível, certamente, lá atrás, alguém sonhou.
Não há tempo nem idade para sonhar, embora essa manifestação comece a ser vista, com muita ênfase, ainda na infância. Portanto, jamais inibir qualquer que seja o desejo de um pequenino. Os sonhos de hoje podem nos levar a lugares inimagináveis daqui a 50, 100 anos, e podem fazer do mundo um lugar melhor para se viver. Os maiores nomes da história sonharam.
Diante de um sonho – seja ele qual for, seja ele de quem for – nossa postura deve ser sempre de apoiar incondicionalmente. Afirmo isso porque, da minha pequena janela da qual ouso sonhar o meu mundo ao olhar as estrelas, o sonho enquanto objetivo é algo que promove o bem. Caso contrário, estaríamos, fatalmente, diante de um pesadelo.
Diferentemente daqueles sonhos que nos apanham ao fechar os olhos, precisamos exercitar mais aqueles cujas variantes podemos controlar. Devemos ser mais sonhadores e fazer dos nossos sonhos verdadeiros motivos para uma vida com mais sentidos, com mais sabor.
Sonhe! Ainda que sejam utópicos, inalcançáveis, bobos, aparentemente inúteis. Que seja volátil e efêmero como manda o roteiro dos dias atuais, mudando de enredo a cada dissabor, sonhe! Ter no que acreditar é viver eternamente uma vida de sonhos.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.