*Por Osmar Gomes dos Santos
Faz pouco mais de dois anos que utilizei dos meus rascunhos para, ainda em vida, homenagear Pelé, o rei do futebol. Fiz por entender que não se pode esperar que alguém se vá, para dizer o quão é importante, embora fosse clara essa importância.
Agora, volto a falar do rei. Homenagem póstuma que se soma a tantas outras já conferidas das mais diversas formas.
Reverenciado mundo afora, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, foi garoto humilde. Negro, um agravante para uma sociedade racista. Enfrentou todas as adversidades que o mundo da bola e o contexto social já foi capaz de submeter a um atleta, o que engrandece e torna única a sua coroa.
Rei! Sim, Rei não por acaso.
A reverência é justa pelos seus feitos como atleta, dentro e fora de campo. Pelé teve tudo para desistir. Menino pobre, viveu os carmas da periferia, a falta de profissionalismo e o racismo em diversas fases de sua vida como jogador.
O preconceito era escancarado, nos clubes, na própria Seleção, por parte dos adversários, da torcida e da arbitragem. Não havia a quem recorrer, se não à habilidade de suas pernas para traçar os caminhos que o levariam a driblar as adversidades. Assim o fez.
Com sua ginga, destreza, força e velocidade, enfileirava os adversários e só parava nos braços dos companheiros de clube, após mais um registro: o gol.
Aos ataques dos canhões em razão do tom de cor, Pelé respondia com tons de genialidade, com a arma chamada futebol-arte.
Viveu um futebol quase medieval, com treinamentos pesados e ausência de regras de fair-play. Jogou com chuteiras e bolas de couro natural, camisas e calções de algodão, uniforme que exigia esforço redobrado quando molhado.
Um rei de hábitos simples, sem “topetes”, sem brincos, sem luzes ou gel nos cabelos, sem filtros.
Pelé era e sempre será o futebol na essência, em estado puro. Virou sinônimo de perfeição… o Pelé da turma, o Pelé do jornalismo, o Pelé do automobilismo, o Pelé da moda, o Pelé, o Pelé, o melhor.
Um verdadeiro artista das quatro linhas, que apesar de tudo que passou respondeu com sorrisos; com arte; com quase mil e trezentos gols oficiais e títulos memoráveis. Cujo nome marcou o século XX, o rosto mais conhecido do planeta.
Feitos memoráveis, que podem até ser alcançados, mas nunca igualados. Muitos jogadores são reconhecidos pelo que fizeram. Mas Pelé é tão singular que sua genialidade entrou para história até mesmo pelo que não concretizou.
O drible de corpo e a finalização quase certeira, a cabeçada e o voo Gordon Banks (defesa mais bonita de todas as copas), a visão e o chute do meio de campo e sua sempre amiga, a bola, insistiu em não entrar. Lances plásticos eternizados.
Confesso estar triste, mas ao mesmo tempo agradecido por poder testemunhar a história do futebol resumida em um homem. Para a matéria, o corpo, o tempo é inexorável, jamais para a lenda, esta vive para a eternidade.
Não uma lenda qualquer, mas aquela criada em torno de um rei. Imortalizado pelo que fez e que não fez, quiçá o único. Se houvesse uma Academia Mundial de Letras Futebolísticas, a cadeira de nº 01 seria eternamente sua.
Aquele menino que prometeu uma Copa ao pai após vê-lo chorar depois da decepção do “Maracanaço” (1950), trouxe três taças mundiais, juntamente com uma equipe desbravadora. Mostrou que sonho e realidade são coisas que andam juntas. Provou que nem todo Império é passível de ruir, ficando o seu reinado eternizado para a posteridade. Rei, Eterno Rei Pelé!
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.